quarta-feira, 27 de julho de 2011

A Dura

Relatos de uma dura na Niemeyer - Erbon Assil

Relatos de uma dura na Niemeyer

A noite começou assim: minha mãe dizendo que estava com um mau pressentimento, que não era pra eu levar nada para a rua.
Deixei tudo em casa, até a seda no fundo do bolso da calça, para que nada de mau acontecesse.
Perguntei para o meu "amigo" que estava comigo se ele tinha alguma coisa. Ele disse que não. Insisti. Falei: minha mãe teve um mau pressentimento. Tem certeza que não tem nada?
Ele disse: não.
Fomos para minha primeira reunião do Daime na av. Niemeyer. O chá não deu nada. Voltamos de carro. Começamos a descer a Niemeyer. Ouvi a sirene na polícia. Nos mandaram parar. Coloquei a seta para a direita, e como não tem nenhum recuo na avenida, pelo menos não que eu tenha visto, esperei descer a avenida toda, e quando cheguei lá embaixo parei imediatamente o carro.
Chegando ao final, saíram dois policias com fuzil na mão, apontando para minha cabeça. Eu perguntei: Pra quê tudo isso?
Eles comecaram a gritar, dizendo que eu não tinha parado quando eles mandaram. Eu falei: Parei assim que deu para parar, pois não tinha recuo na avenida.
Não adiantou, os policias ficaram zangados.
Revistaram o meu "amigo" e acharam 2 mutucas no bolso do casaco dele. Os policias revistaram meu carro. Uma atenção para o detalhe: meu carro era novinho, tinha comprado na mesma semana. Ainda nem tinha fumado nele.
Os policiais revistaram meu carro, e curiosamente, acharam uma ponta! hahahaha! que não era minha por dois motivos: ainda não tinha fumado no carro novo, e a ponta não tinha filtro. Eu só fumo com filtro.
Falei pro meu "amigo" sem os policiais ouvirem: eu não te perguntei vigorosamente se você tinha alguma coisa? Ele falou: não lembrava.
Nessa hora eu já estava emputecida com meu "amigo" porque eu sabia que os pressentimentos da minha mãe não falham nunca. Daí os policiais tentaram porque tentaram nos subornar, mas como meu "amigo" não tinha dinheiro, eu falei: Me leva pra delegacia, eu não tenho nada a ver com isso. Nisso, nos levaram, e meu "amigo" começou a ficar desesperado.
Chegando na delegacia, liguei pro meu advogado. O meu "amigo" ligou pra mãe dele, e ela falou: se vira.
Meu advogado chegou lá, e falou que para me tirar da delegacia, ia ter que tirar o meu “amigo” também, pois se não, iam bater nele, até ele colocar a culpa em mim. E disse que você é responsável por quem está no seu carro. Ou seja, 2 mutucas já é tráfico, e eu era cúmplice. Só que para me tirar da cadeia, sem ser fichada, eu (leia-se: minha família) tive que pagar cinco mil reais para me liberarem, pois a grana não seria só para os policiais que me prenderam. Seria para o tabelião, para o delegado, e para os 4 policiais que nos abordaram.
No final das contas, eu, que não tinha nada a ver com a história, salvo o fato de ter um amigo que não era amigo, e ainda por cima burro, tive que pagar propina para os policiais.
O meu "amigo" deu quinhentos reais para minha mãe depois, e não deu mais nada. Os cinco mil reais ficaram nas minhas costas, e eu nem tinha fumado, e nem guardado droga nenhuma.
E até hoje minha mãe ainda joga isso na minha cara.

sábado, 16 de julho de 2011

Projeto 12/16


Projeto 12/16

Abrimos aqui um concurso de contos sobre duras policiais. Se você é do Rio de Janeiro provavelmente terá muitas histórias pra contar.
O projeto consiste em selecionar os melhores textos sobre cannabis, policia, duras, Rio de Janeiro, Estado-política e todo blábláblá em que se enrola, desenrola, vira fumaça e tapa na cara… Tudo aquilo que você tiver para falar será bem recebido e pode ser superlativado.
Escrevam como falam, como se estivessem contando a história para um amigo.
Linguagem da pista!
Para participar do projeto basta mandar um conto para o email concurso1216@gmail.com .
Os contos serão postados no blog e faremos uma pesquisa sobre as melhores histórias. As histórias mais lidas, votadas e comentadas, participaram do livro 12/16
Enquanto não vêm a legalização, vamos escrevendo os absurdos sofridos por aquilo que digo que é parte de nossa cultura. Somos mesclas de índios, negros e europeus decadentes. A cannabis chegou ao Brasil através dos negros. 440 anos de consumo quase que legal.  + ou - 70 anos de repressão e ditaduras maquiadas. Somente a palavra não nos tiram. Soltemos o verbo!!!